quinta-feira, 2 de setembro de 2010

John Ford 1917-1935 - Alguns destaques (parte 1/2)


Acabei de ler recentemente um livro maravilhoso sobre Ford, escrito pelo Tag Gallagher (“John Ford: The Man and His Films”), disponível em pdf no site do próprio autor. Recomendo a leitura a todos que se interessem pela filmografia do diretor. O livro traz algumas notas biográficas, mas centra-se na análise dos filmes, discorrendo sobre praticamente todos eles, a partir de 1928. Dizem que o livro do Peter Bogdanovich, “John Ford”, também é muito bom.

Seguem alguns destaques do que tenho visto dos primeiros filmes da carreira do diretor, no período de 1917 a 1935 (vou dividir em dois posts para não ficar muito gigantesco).

1) Straight Shooting (Estados Unidos, 1917)

Ao que parece, este é o filme mais antigo de Ford com cópia ainda existente e seu primeiro longa-metragem. “Straight Shooting” já valeria pelo documento histórico que é, pois é uma rara amostra dos 25 filmes que Ford fez entre 1917 e 1921 com Harry Carey como protagonista, interpretando quase sempre o mesmo personagem, Cheyenne Harry. Quase todos os filmes dessa época se perderam, restando hoje apenas, além deste, “Bucking Broadway” e “Hell Bent”, mais pedaços de “The Scarlet Drop” e de “A Gun Fightin’ Gentleman”. Aqui já se nota a figura do herói fordiano solitário, que chega para desfazer uma injustiça, reunir uma família. Diz a lenda que a versão original terminava com Cheyenne Harry sozinho, devolvendo a mocinha Molly para o mocinho Sam, algo tipicamente fordiano, mas a versão disponível hoje, supostamente reeditada pela Universal, termina com um final feliz, em que Harry fica com Molly.

2) O Cavalo de Ferro (The Iron Horse, Estados Unidos, 1924)

Grande épico sobre a construção de uma nação. Chama a atenção a visão ao mesmo tempo grandiosa e pessimista de Ford, que pinta o processo com traição, ganância inescrupulosa e muitas mortes (é dado especial destaque às várias sequências de enterros durante o filme). Aqui o talento de Ford para pintar grandes painéis sobre a história dos Estados Unidos já está bem amadurecido.

3) Os Três Homens Maus (3 Bad Men, Estados Unidos, 1926)

Aqui o típico herói fordiano é dividido em 3 “bandidos bons”, que salvam a vida da mocinha e se sacrificam para reunir uma família. Fica clara a simpatia de Ford pelos deserdados da sociedade, uma constante em sua obra.

4) Quatro Filhos (Four Sons, Estados Unidos, 1928)

Espécie de antecipação ao maravilhoso “Pilgrimage”, de 1933, aqui também temos uma mãe como figura central. O filme retrata uma família destruída pela I Guerra Mundial. Três dos filhos lutam pela Alemanha, enquanto o quarto luta do lado oposto, pelos Estados Unidos. Ford, que às vezes parece um entusiasta do exército, faz aqui um retrato desolador da guerra. Neste filme começa a se tornar evidente uma forte influência do expressionismo alemão na composição visual, fruto da admiração de Ford por Murnau, que marcará boa parte de seus filmes, pelo menos até 1935.

5) Justiça do Amor (Hangman's House, Estados Unidos, 1928)

É estranho ver Victor McLaglen em um papel não cômico, depois de me acostumar com ele nos filmes de Ford dos anos 40 e 50, como a trilogia da cavalaria (“Fort Apache”, “She Wore a Yellow Ribbon”, “Rio Grande”) e “The Quiet Man”, em que faz papéis engraçadíssimos. Antes disso, porém, ele bancava o protagonista galã nos filmes do diretor. Aqui ele faz o papel do herói fordiano que novamente chega para desfazer uma injustiça (o pai da mocinha quer casá-la com um malfeitor rico, apesar de ela ter planos de se casar com outro). Como bom herói fordiano, o personagem de McLaglen se apaixona pela mocinha, mas cumpre seu papel de juntar o casal e ir embora sozinho no fim.

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