quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Aquele Querido Mês de Agosto (Miguel Gomes, Portugal / França, 2008)


O cinema português tem se mostrado ultimamente bem instigante. Este é um filme cuja chave é o olhar maravilhado diante do mundo e é esse olhar que dará o tom de toda sua duração. No início o filme aparenta não ter um objeto específico. Vemos diversas sequências de bandas de pequenos vilarejos da região de Arganil, em Portugal, tocando músicas populares, além de entrevistas com indivíduos desses vilarejos. Aos poucos, um enredo começa a tomar forma, com uma equipe cinematográfica (interpretada pela própria equipe do filme) que está rodando (ou está para rodar) um filme de ficção ali naquela região. Uma sequência chave, mais pro meio do filme, mostra uma discussão entre o produtor e o diretor em torno das filmagens. O produtor reclama que não se está seguindo o roteiro, e o diretor reclama da falta de recursos. Na segunda metade do filme vemos o filme de ficção que supostamente era para ser rodado desde o início. Ali vemos voltar diversos dos motivos (pessoas, falas, músicas, situações) que já havíamos visto na primeira parte, documental. Também nessa parte ficcional, a chave é o olhar maravilhado. Há uma paixão pelos ambientes retratados, pelas pessoas, pelas músicas bregas tocadas o tempo todo. Lendo um pouco sobre a produção do filme, fiquei sabendo que a equipe rodou a primeira parte em agosto de um ano e voltou em agosto do ano seguinte, para rodar a segunda parte. O simbolismo desse mês parece ser muito forte em Portugal, em particular nesses vilarejos. Agosto é o mês em que os jovens, que saem dos vilarejos para as cidades, voltam para visitar seus familiares. É também o mês em que, devido a esse retorno, abundam as festas nos vilarejos, retratadas em profusão. A sequência dos créditos finais é engraçadíssima. O diretor novamente começa uma discussão, dessa vez com o responsável pela captação de som, reclamando que os sons captados não correspondem ao que a câmera enquadra, ao que o técnico de som argumenta que os sons registrados são fruto de suas opções pessoais, que devem ser respeitadas. Diversos outros membros da equipe entram na discussão enquanto cada um deles é apresentado nominalmente nos créditos à medida que participam da discussão. Ao fim, mais uma surpresa: começa a tocar “Tudo Passará”, do Nelson Ned. Sensacional. Definitivamente, um filme a se rever.

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