terça-feira, 29 de março de 2011

Screen Directors Playhouse: Rookie of the Year (John Ford, Estados Unidos, 1955)

Metáfora crítica à “caça às bruxas” macartista dos anos 50, este média (feito para a série televisiva “Screen Directors Playhouse”) conta a história de um jornalista, interpretado por John Wayne, que trabalha num jornaleco interiorano e que vê sua chance de se projetar quando suspeita que o jogador de beisebol sensação do momento é filho de um ex-jogador que foi banido do esporte por se envolver em práticas de manipulação de resultados. Ford reflete novamente, como em “Fort Apache” (1948) e “The Man Who Shot Liberty Valance” (1962) sobre o papel dos jornalistas em omitir fatos para construir a versão histórica oficial. Nesse caso, há um pacto de silêncio, para que a revelação do fato não venha a manchar a carreira do jovem jogador, destruindo sua reputação e, consequentemente, secando uma fonte para a mídia esportiva, ávida por ídolos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Mister Roberts (John Ford, Mervyn LeRoy & Joshua Logan, Estados Unidos, 1955)

Apesar de ser apontado como um filme problemático, em decorrência dos conflitos entre Ford e Henry Fonda durante as filmagens e do crescente problema do diretor com a bebida, que o fizeram largar o filme no meio, de forma que Mervyn LeRoy e Joshua Logan foram escalados para terminá-lo, este filme tem bastante a cara de Ford. Notam-se alguns deslizes, mas, no geral, é um bom filme. Está presente novamente o sentimento ambíguo de Ford em relação à vida militar: o elogio da camaradagem entre os marinheiros, confrontado com a crítica à truculência de certos militares, personificada aqui no personagem de James Cagney, um capitão arrogante que lembra um pouco o Coronel Thursday que Fonda interpretara em “Fort Apache” (1948). A tripulação do navio comandado por Cagney se identifica fortemente com Fonda, em seus rompantes de insubmissão e confrontamento ao capitão. Grande parte do humor fica por conta de Jack Lemmon, que está engraçadíssimo em um de seus primeiros papéis no cinema.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Trocando as Bolas (Trading Places, John Landis, Estados Unidos, 1983)

Landis faz um filme ao mesmo tempo engraçadíssimo, mas profundamente triste em sua visão desencantada da sociedade americana capitalista dos anos 80. Não há quem se salve aqui. Até os “heróis” do filme, representados por Dan Aykroyd e Eddie Murphy, vitimizados pela ganância dos irmãos magnatas que os tratam como joguete em suas apostas, só podem responder na mesma moeda, se enriquecendo à custa do empobrecimento dos vilões. A aposta em questão é proposta por um dos irmãos, com base na teoria de que o meio é o que molda a personalidade de cada indivíduo. Para provar isso, ele pega dois indivíduos, o administrador da empresa dos irmãos e um pedinte trapaceiro que se finge de cego e aleijado, e dá um jeito para que troquem de lugar. Assim, os irmãos pretendem ver se o administrador vira um ladrão, enquanto o mendigo vira um homem de respeito e um bom funcionário. A história tem um quê de paráfrase à história de Jó, em que o Diabo desafia a Deus, querendo provar que seu servo fiel o amaldiçoaria se perdesse tudo o que tem. O clímax do filme, na sequência da bolsa de valores, é uma paródia sensacional do espírito yuppie / capitalista selvagem estadunidense dos anos 80. Como atrativo paralelo para a ala masculina, Jamie Lee Curtis, como em grande parte dos filmes do início de sua carreira, põe os peitos de fora um par de vezes.

quinta-feira, 10 de março de 2011

The Hole (Joe Dante, Estados Unidos, 2009)

É muito bom ver Joe Dante de volta à ativa, depois de tanto tempo no ostracismo. Desde o inacreditável “Looney Tunes: Back in Action” (2003), o único que Dante havia feito de significativo eram dois episódios para a série televisiva “Masters of Horror” (o muito bom “Homecoming”, de 2005, e o apenas razoável “The Screwfly Solution”, de 2006). Fora isso, apenas episódios isolados de séries e curtas para a internet. Aqui ele retorna ao cinema, com um belo filme B, um conto infanto-juvenil sobre o enfrentamento do medo. Há claras referências a trabalhos anteriores do diretor (parte da trama lembra um pouco a série “Eerie Indiana”, realizada entre 1991 e 1992, e de cuja equipe criativa Dante participou; há um palhaço monstrengo que lembra bastante um gremlin; a casa que fica dentro do buraco lembra a de “It’s a Good Life”, episódio que Dante dirigiu para o coletivo “Twilight Zone: The Movie”, de 1983) e o sempre presente Dick Miller faz uma pontinha. Apesar de esse filme não ter a menor cara de potencial de sucesso (no crivo imbecil do público pasteurizado dos multiplexes, filme de terror que não dá muito medo não presta; filme de comédia que não faz gargalhar a cada segundo é uma merda etc, sem querer generalizar demais, mas um pouco de generalização é bom para reforçar a argumentação), esperemos que Dante volte de fato à ativa, pois seus filmes deixam saudade, desde os clássicos “Piranha” (1978), “Explorers” (1985), “Innerspace” (1987) e “Matinee” (1993), até os mais modestos mas não menos geniais “Runaway Daughters” (1994) e “The Second Civil War” (1997).

quinta-feira, 3 de março de 2011

A Paixão de uma Vida (The Long Gray Line, John Ford, Estados Unidos, 1955)

Mais uma declaração de amor de Ford ao exército. Tyrone Power faz o papel de Martin Maher, um militar confrontado com uma aposentadoria compulsória depois de passar 50 anos na academia militar de West Point, lugar que dá sentido à sua vida. O que é curioso é que o personagem parece ter no início bastante dificuldade de se adaptar à rigidez da disciplina militar, por ser um tanto insubordinado. Ironicamente, Maher decide se alistar quando, depois de quebrar vários pratos em seu serviço de garçom na academia e ficar devendo bem mais que o seu salário, descobre que os militares não podem ser multados por quebrarem pratos. Em relação conflituosa com a vida militar, Maher resolve, por diversas vezes, ao longo desses 50 anos de academia, abandonar a carreira, mas sempre acaba mudando de ideia por diversas razões, até que, por fim, se afeiçoa àquela vida, da qual não faria mais sentido abdicar. A tônica do filme, como em vários do diretor, é essa dicotomia entre disciplina, ordem, de um lado, e liberdade, autonomia, de outro. Seu sentimento dúbio em relação ao exército está presente tanto nos momentos engraçadíssimos em que Ford tira um sarro da rigidez militar, quanto no olhar deslumbrado para os desfiles e na forte amizade entre os soldados que vivem na academia. Maureen O’Hara faz o papel da esposa irlandesa durona e sentimental, lembrando a Mary Kate de “The Quiet Man” (1952). O filme conta ainda com a sempre bem-vinda presença de grandes atores-fetiche de Ford: Ward Bond, Donald Crisp, Harry Carey Jr., Patrick Wayne, Jack Pennick.

terça-feira, 1 de março de 2011

O Brinquedo (The Toy, Richard Donner, Estados Unidos, 1982)

Sessãozona da tarde este filme, com o que isso pode ter de bom e de ruim. As piadas referentes à escravidão são bem infelizes, particularmente quando o filho do magnata escolhe na loja de brinquedos de seu pai o personagem de Richard Pryor como seu presente e vemos ao fundo do plano uma bandeira dos Estados Conferados escravocratas da época da Guerra de Secessão. As piadas de conteúdo sexual que envolvem o menino também soam um pouco bizarras, ainda mais se soubermos que o ator mirim Scott Schwartz virou ator pornô depois de adulto. Incomoda também a trilha sonora emocional histérica e onipresente, que é acionada toda vez que o filme quer nos enfiar goela abaixo lições de moral com valores nobres como a importância da família e coisas do tipo. Fora os muitos defeitos, porém, o filme tem bons momentos cômicos, principalmente na interação entre Jackie Gleason e o genial Pryor (afinal, sua presença costuma compensar filmes medianos). Ned Beatty também tem seus momentos quando contracena com Pryor. O trabalho do diretor Richard Donner, no entanto, acaba sendo meio decepcionante, uma vez que ele dirigiu belos filmes (alguns que não vejo há muito tempo, mas que deixaram boas lembranças em minha cinefilia infantil) como “Superman” (1978), “Goonies” (1985), “Os Fantasmas Contra-Atacam” (“Scrooged”, 1988) e o mais recente “16 Blocks” (2006).