sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Brincou com Fogo... Acabou Fisgado! (Continental Divide, Michael Apted, Estados Unidos, 1981)

Escrito por Lawrence Kasdan, este é o único filme em que John Belushi tem um papel mais “sério”, ainda mais contido que em “Neighbors”, que afinal, apesar da atuação com menos estardalhaço de Belushi, era ainda uma comédia bem escrachada. O resultado é até interessante, embora o filme não passe muito de uma comédia romântica sem grandes atrativos além da presença de Belushi. Sua interpretação mais contida, no entanto, é atrativo suficiente e prova da abrangência de seu repertório, do qual infelizmente temos poucos exemplos devido a sua morte prematura. Apesar da interpretação menos chamativa, Belushi está, como sempre, bastante engraçado na pele de um jornalista investigativo mandado para as montanhas do Colorado por seu editor, depois de mexer com um político corrupto que envia uns policiais para lhe darem um trato, mandando-o ao hospital. Seu papel nas montanhas é o de entrevistar uma especialista em águias, por quem, obviamente, em se tratando de uma comédia romântica, o personagem de Belushi se apaixonará.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mogambo (John Ford, Estados Unidos, 1953)

Este filme estabelece um diálogo interessante com “What Price Glory” (1952), pela forte semelhança entre os enredos e pelo uso de uma situação espaço-temporal extrema (ali a I Guerra Mundial, aqui uma selva africana) como mero pretexto para por em relevo as paixões acirradas dos personagens. Ambos os filmes se desenvolvem em torno de uma história bastante simples: duas pessoas que brigam pelo amor de uma terceira. Aqui, no entanto, são duas mulheres (Ava Gardner e Grace Kelly) que disputam um homem (Clark Gable). E, enquanto no filme anterior os militares brigavam abertamente pela moça, chegando várias vezes ao confronto físico, aqui o duelo é mais sutil, mais encoberto, até porque a personagem de Kelly é casada e tem seu marido sempre por perto. Mas, de qualquer forma, essa diferença diz muito da visão que Ford tem das particularidades de cada sexo. No fim, a personagem de Gardner se revela a típica heroína fordiana, por impedir a dissolução do casal, preservando sua própria inimiga. Apesar de Gardner e Gable terminarem juntos, o verdadeiro amor é impossível, como quase sempre em Ford, já que Kelly permanece em sua vida conjugal infeliz, Gable perde a mulher que verdadeiramente ama e fica com Gardner, para ele mero objeto, apenas por conveniência. Apenas Gardner consegue o que quer, ainda que, para isso, provavelmente tenha que abrir mão de sua felicidade.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, John Landis, Estados Unidos / Inglaterra, 1981)

Landis está aqui mais próximo do terror do que de seu território usual, a comédia, ainda que o filme seja bastante engraçado grande parte do tempo. Como na maioria dos filmes do diretor, as melhores sequências se passam à noite, momento ideal para as perseguições, as batidas de carro, os desastres, o caos, que tanto apetecem a Landis. As sequências de ataque do lobisomem são um primor de timing e uma soberba aula de edição. Destaca-se a engraçadíssima sequência no cinema pornô, em que David discute com suas vítimas a melhor forma de se suicidar, para quebrar a maldição do lobisomem.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Sol Brilha na Imensidão (The Sun Shines Bright, John Ford, Estados Unidos, 1953)

Este é mais um dos filmes de Ford que sofrem de leituras equivocadas. A mentalidade politicamente correta de hoje se incomoda, por exemplo, com o personagem estereotipado do criado negro interpretado por Stepin Fetchit, o mesmo de “Judge Priest” (1934). Mas, por mais que tenha sido acusado tantas vezes de reacionário, Ford mostra aqui mais uma vez o espírito libertário por trás das posições políticas direitistas que expressava. O juiz Priest, revivido aqui por Charles Winninger, pois o original Will Rogers havia morrido duas décadas antes, se identifica com os injustiçados, com os deserdados, aqui especificamente as prostitutas e os negros em uma sociedade sulista racista e moralista. Ford faz aqui, na figura de Priest, o elogio dos gestos simples, contra toda a pompa e o estilo empolado de seu adversário Maydew. Destaca-se, quase no fim do filme, a longa sequência silenciosa do cortejo fúnebre em torno do caixão da mãe de Lucy Lee, puxado inicialmente apenas por Priest e pelas outras prostitutas, mas ao qual se juntam diversos habitantes da cidade. A comicidade do filme fica novamente a cargo de Stepin Fetchit e de Francis Ford, este último em seu derradeiro papel antes de morrer, no mesmo ano.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sangue por Glória (What Price Glory, John Ford, Estados Unidos, 1952)

Tido como um filme “menor” na carreira de Ford, este é ainda assim um grande filme. James Cagney e Dan Dailey interpretam dois militares rivais (apesar de integrarem o mesmo regimento), que brigam pelo amor de uma garçonete francesa (interpretada pela mesma Corinne Calvet que havia feito uma francesa por quem Dailey se apaixona em “When Willie Comes Marching Home” (1950). Os duelos verbais entre os dois são sensacionais e o humor de Ford está afiado como sempre. Como usualmente ocorre em Ford, o amor é impossível e os três só podem terminar sozinhos, já que os dois militares não podem fugir de seu dever de lutar e, por isso, abdicam do amor da moça. Não compreendo exatamente o porquê de esse ser considerado um filme menor do diretor, pois é realmente muito bom. A bela fotografia de cores carregadas do Technicolor dá uma atmosfera bastante irreal às cenas de batalha, o que se relaciona à pouquíssima importância que a guerra tem na trama, apesar de a história toda se passar durante a I Guerra Mundial. A guerra é, aqui, nas palavras de Tag Gallagher, um inferno surreal.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Fábrica de Robô (Heartbeeps, Allan Arkush, Estados Unidos, 1981)

Apesar de ser dirigido por Allan Arkush, que havia realizado anteriormente os divertidos “Hollywood Boulevard” (1976) e “Rock n’ Roll High School” (1979), em parceria com Joe Dante, e de ser um dos únicos filmes estrelados por Andy Kaufman, este filme é bem decepcionante. Nem mesmo a participação de grandes figuras como Dick Miller, Christopher Guest, Paul Bartel e Mary Woronov salvam essa comédia bem sem graça boa parte do tempo. O enredo gira em torno de um casal de robôs em manutenção, que se apaixonam e fogem da fábrica, perseguidos por um robô policial. Há ainda um robô que faz uma espécie de comédia stand-up com piadas sofríveis durante todo o filme e cuja presença traz alguma graça. A interpretação de Kaufman, porém, é bem apagada, porque restrita a um personagem desinteressante. Vale, no entanto, pela raridade de vê-lo atuando num filme. E, na linha do “tão ruim, que é bom”, até que o filme tem seus momentos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Depois do Vendaval (The Quiet Man, John Ford, Estados Unidos, 1952)

Mais um filme de Ford que passa um forte sentimento de filme “de galera”. Estão aqui vários de seus atores recorrentes: John Wayne, Maureen O’Hara, Barry Fitzgerald, Ward Bond, Victor McLaglen, Francis Ford, Arthur Shields. A Irlanda retratada por Ford aqui traz um contraste interessantíssimo entre a nostalgia de uma terra pintada de belas cores de um Technicolor carregado e a violência de uma comunidade à qual o personagem de Wayne tem muita dificuldade de se adaptar, devido a suas regras sociais e suas fortes tradições. Aqui, no entanto, a adaptação, apesar de penosa, é possível, ao contrário dos filmes com Will Rogers, em que ao herói não resta outra saída senão fugir.Nota-se, portanto, mais esperança aqui que em grande parte dos filmes anteriores de Ford.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Guerra ao Terror (The Hurt Locker, Kathryn Bigelow, Estados Unidos, 2008)

O fuzuê em torno de “Guerra ao Terror” (título infeliz e apelativo que não tem absolutamente qualquer relação com o filme) foi bom para despertar o meu interesse pelo trabalho até então desconhecido por mim de Kathryn Bigelow, que se revelou uma belíssima cineasta. Bigelow tem enorme talento para a encenação de sequências de ação, que dão toda a força ao filme, principalmente em suas principais sequências, as de desarmamento de bombas. Tido equivocadamente como apolítico, o filme se centra na história de um sargento viciado em desarmar bombas, que se interessa mais pela guerra que pela mulher e filho que ficaram pra trás, prescindindo diversas vezes de medidas de segurança e pondo em risco seus colegas do esquadrão anti-bombas, pelo simples prazer do risco (como diz a epígrafe do filme, em tradução livre: “A adrenalina da batalha é muitas vezes um vício potente e letal, pois a guerra é uma droga”).

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu (Airplane!, Jim Abrahams, David & Jerry Zucker, Estados Unidos, 1980)

Esta é a estreia do trio Zucker, Abrahams & Zucker na direção, depois de terem roteirizado o divertido mas irregular “The Kentucky Fried Movie” (John Landis, 1977). A quantidade meio exagerada de piadas que se encavalam umas sobre as outras faz com que várias delas sejam meio sem graça, mas o filme tem várias piadas engraçadíssimas, principalmente os jogos de linguagem com os nomes dos personagens. Leslie Nielsen demora a aparecer, mas rouba a cena depois que aparece. A participação de Lloyd Bridges também é sensacional.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Estranhos Vizinhos (Neighbors, John G. Avildsen, Estados Unidos, 1981)

Retomando a bela dupla de “The Blues Brothers” (John Landis), rodado no ano anterior, esta comédia de humor negro tem como protagonistas John Belushi e Dan Aykroyd, funcionando novamente bem em bela química. Belushi faz o papel de um pai de família caretão, que passa a ter sua pacata vida perturbada quando um casal (Aykroyd e Cathy Moriarty) se muda para a casa ao lado. Os vizinhos entrões tocam o inferno na vida de Belushi, que, ao mesmo tempo em que aparenta se irritar profundamente, passa a nutrir uma admiração secreta pelo estilo de vida aventureiro e anárquico do casal. É interessante ver Belushi num papel mais contido, pois quem o viu atuando anteriormente em “The Blues Brothers” e, principalmente, em “Animal House” (John Landis, 1978), com seu humor físico exagerado, espera que ele exploda a qualquer momento. A trilha sonora de desenho animado chega a irritar no começo pela sua onipresença, mas aos poucos se revela adequada e se encaixa perfeitamente ao tom cartunesco do filme. O diretor, John G. Avildsen, talvez seja digno de um pouco mais de atenção, uma vez que realizou pelo menos outro bom filme em 1976: “Rocky”.