terça-feira, 26 de abril de 2011

The Rising of the Moon (John Ford, Irlanda / Estados Unidos, 1957)

Outro belíssimo exemplo de um dos filmes mais “modestos” de Ford, como “Wagon Master” (1950) e “The Sun Shines Bright” (1953), mais pessoais, de orçamento mais baixo, e sem grandes estrelas no elenco (aqui todos os atores são irlandeses, à exceção de Tyrone Power, que faz uma ponta como o apresentador das três histórias curtas que compõem o filme). Ford volta à Irlanda mais uma vez, para contar três histórias cômicas da literatura irlandesa, que pintam os irlandeses como criaturas bastante peculiares. A estrutura em episódios é uma bela oportunidade para Ford exercitar seu talento cômico baseado em esquetes e no desenvolvimento ágil de diversos personagens, muito bem desenvolvidos em traços rápidos. A terceira história, intitulada “1921” é a que chama mais a atenção por sua construção visual, com enquadramentos diagonais reminiscentes da admiração pelo expressionismo alemão (e Murnau em particular) que dominou a obra de Ford nos anos 20 e 30. Os enquadramentos peculiares retratam bem a atmosfera de instabilidade da guerra irlandesa pela independência, contexto no qual a história se desenvolve. Mas ainda prefiro a leveza e aparente simplicidade do segundo segmento (“A Minute’s Wait”), em que um trem faz uma “breve” parada em uma estação, prevista apenas para um minuto. No entanto, a partida é impedida diversas vezes por episódios inusitados, como o embarque de última hora de uma cabra, seguido de um carregamento de lagostas e, por fim, de um time de hóquei cujo ônibus havia quebrado. Ford utiliza muito bem a estrutura musical dos diversos embarques e desembarques de passageiros para elaborar esquetes que envolvem uma quantidade impressionante de personagens tão bem desenvolvidos para um tempo tão reduzido. O primeiro segmento também não fica muito atrás, em seu retrato cômico de um policial enviado para prender um amigo acusado de violência contra um terceiro. O policial oferece ao amigo a possibilidade de pagar uma multa para evitar a prisão, mas o acusado prefere defender sua honra indo à prisão, mas não imediatamente, uma vez que o policial lhe permite ir voluntariamente, no momento que melhor lhe convier.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Rastros de Ódio (The Searchers, John Ford, Estados Unidos, 1956)

Esperei ansioso pela experiência quase sagrada de assistir a este filme em película, na mostra do Ford que aconteceu ano passado no CCBB. A revisão da obra, ainda mais numa sala de cinema, em película, como as grandes obras devem ser vistas, tornou-a ainda mais sensacional. John Wayne encarna aqui, pela enésima vez na obra de Ford, o típico herói condenado à solidão, que entra em cena para cumprir o seu dever (nesse caso, o de resgatar a sobrinha raptada por índios Comanches) e ir embora sozinho no fim. O humor de Ford está afinadíssimo aqui, principalmente nas figuras hilárias interpretadas por Ken Curtis (sua briga com o personagem de Jeffrey Hunter, antes do casamento com Vera Miles, é memorável) e Hank Worden (que passa o filme inteiro em busca de sua cadeira de balanço em frente à lareira, em diálogo com outra constante na obra de Ford: a busca do homem pela paz de espírito). A propósito, a linda música-tema do filme fala justamente dessa eterna busca: “A man will search his heart and soul / Go searchin' way out there / His peace of mind he knows he'll find / But where, O Lord, Lord where? / Ride away, ride away”. A famosa sequência final é arrebatadora e ilustra belissimamente o caráter e o destino do personagem. Wayne carrega a sobrinha nos braços até a casa dos Jorgensen, ao som da música-tema, enquanto Hank Worden balança em sua cadeira no alpendre. Depois que todo mundo entra em casa, Wayne parte sozinho, e a porta se fecha para a sua solidão.

terça-feira, 5 de abril de 2011

The Promotion (Steven Conrad, Estados Unidos, 2008)

Estrelado por Sean William Scott e John C. Reilly, este filme tira um belo sarro do espírito self-made-man, da luta desesperada pelas promoções e dos discursos motivacionais de auto-ajuda. Scott e Reilly interpretam dois funcionários de uma rede de conveniência, que brigam pela posição de gerente de uma nova franquia da rede que está para abrir. Inicialmente, o filme dá um pouco de desânimo por parecer descambar muito para o estereótipo no trato com os personagens, mas da segunda metade para a frente ele ganha fôlego, pois os personagens, principalmente o de Reilly, vão se revelando mais complexos e a briga cada vez mais desesperada pela posição torna-se mais engraçada. Mas o filme peca, ainda assim, por piadas um tanto preconceituosas e por abusar muito dos estereótipos (como o dos canadenses gente boa, o dos chicanos zoadores e dos negros encrenqueiros).