quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Sol Brilha na Imensidão (The Sun Shines Bright, John Ford, Estados Unidos, 1953)

Este é mais um dos filmes de Ford que sofrem de leituras equivocadas. A mentalidade politicamente correta de hoje se incomoda, por exemplo, com o personagem estereotipado do criado negro interpretado por Stepin Fetchit, o mesmo de “Judge Priest” (1934). Mas, por mais que tenha sido acusado tantas vezes de reacionário, Ford mostra aqui mais uma vez o espírito libertário por trás das posições políticas direitistas que expressava. O juiz Priest, revivido aqui por Charles Winninger, pois o original Will Rogers havia morrido duas décadas antes, se identifica com os injustiçados, com os deserdados, aqui especificamente as prostitutas e os negros em uma sociedade sulista racista e moralista. Ford faz aqui, na figura de Priest, o elogio dos gestos simples, contra toda a pompa e o estilo empolado de seu adversário Maydew. Destaca-se, quase no fim do filme, a longa sequência silenciosa do cortejo fúnebre em torno do caixão da mãe de Lucy Lee, puxado inicialmente apenas por Priest e pelas outras prostitutas, mas ao qual se juntam diversos habitantes da cidade. A comicidade do filme fica novamente a cargo de Stepin Fetchit e de Francis Ford, este último em seu derradeiro papel antes de morrer, no mesmo ano.

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