quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

This Is Korea! (John Ford, Estados Unidos, 1951)

Na superfície apenas um filme de propaganda, feito para explicar o propósito de uma guerra incompreendida pelos estadunidenses à época, este documentário é uma oportunidade para Ford celebrar os soldados anônimos, que estão ali para cumprir um dever ante a pátria, mesmo não entendendo muito bem o motivo da guerra. Não há aqui quase nada do que se espera de um documentário estadunidense sobre a guerra, poucos comentários políticos, nada sobre estratégia militar ou táticas de guerra. O inimigo não aparece nem de relance. O foco está concentrado no sofrimento dos soldados bucha-de-canhão, heróis anônimos bem típicos do cinema de Ford.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Smiley Face: Louca de Dar Nó (Gregg Araki, Estados Unidos / Alemanha, 2007)

Ainda que o filme perca o tom em alguns momentos e pareça em grande parte um pouco equivocado, a presença cômica de Anna Faris tem bastante força aqui. O filme é basicamente uma comédia de erros centrada na personagem de Faris, que passa o tempo todo chapada de maconha e interage com personagens bastante interessantes, como os interpretados por Danny Masterson, John Krasinski, Danny Trejo e John Cho. Apesar do tom meio afetado, o filme tem vários momentos bastante engraçados, como a sequência em que Faris faz um discurso comunista/pró-sindicato/anti-carnívoro na fábrica de linguiças.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Caravana de Bravos (Wagon Master, John Ford, Estados Unidos, 1950)

1950 foi mais um ano inspiradíssimo para Ford, uma vez que o diretor realizou no mesmo ano três belíssimos filmes (além deste, “When Willie Comes Marching Home” e “Rio Grande”, o melhor dos filmes da trilogia da cavalaria). Novamente, como em “3 Godfathers”, a história é uma alegoria bíblica, dessa vez a busca pela Terra Prometida. Ward Bond interpreta o líder de uma comunidade mórmon em deslocamento até um vale propício no qual se estabelecer. Em resposta a suas orações, Deus envia dois vendedores de cavalo, interpretados por Ben Johnson e Harry Carey Jr., que ajudarão a comunidade a atravessar o deserto até a Terra Prometida. Também como em “3 Godfathers”, o tom é de esperança, uma vez que a convivência dos mórmons com os diferentes grupos que se juntam à caravana (os vendedores de cavalo, a trupe de artistas mambembes, os bandidos Cleggs) é pacífica. Essa convivência com os diferentes, a propósito, gera grande parte do humor do filme, como na sequência em que o personagem de Carey diz algo como “isso aqui vai ficar quente como o inferno”, ao que é repreendido por um mórmon. Carey então responde: “inferno não é palavrão, é geografia”. A convivência é pacífica também com os índios Navajos com os quais a caravana cruza e aos quais se junta em uma festa. Até mesmo a convivência com os bandidos Cleggs é possível de ser pacífica, até o momento em que os bandidos resolvem roubar as sementes que, nas palavras do líder mórmon, “valem mais que ouro”. Nesse momento, os bandidos têm que ser eliminados, como serpentes (nas palavras do personagem de Johnson, sua arma só é usada para matar serpentes) que manchariam o paraíso da Terra Prometida.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Recrutas da Pesada (Stripes, Ivan Reitman, Estados Unidos, 1981)

Este blog já tá virando um festival de traduções trash de títulos de filmes. Mas também tradução de título de comédia é foda. Neguinho sempre quer dar um título engraçadinho e saem essas pérolas, ainda mais em se tratando de anos 80. Este filme é o terceiro fruto da bela parceria entre Bill Murray e Harold Ramis (roteirista e co-protagonista). Os dois já haviam feito anteriormente o mediano mas engraçado “Meatballs” (Ivan Reitman, 1979), além do muito bom “Caddyshack” (Harold Ramis, 1980), e fariam ainda os clássicos “Ghostbusters” I e II (Ivan Reitman, 1984 e 1989) e “Groundhog Day” (Harold Ramis, 1993). Aqui Murray tem bem mais espaço que em “Meatballs” para o improviso e para fazer o que faz melhor: sua comédia física exagerada, que beira o overacting, e é totalmente em torno dele que o filme gira, apesar da presença de belos coadjuvantes (Warren Oates, John Candy, John Larroquette, Conrad Dunn), que faltavam no filme anterior de Reitman (exceção feita talvez ao personagem de Jack Blum naquele filme, figura típica do nerd, mas que tinha alguma graça). O grosso da comédia de Murray está aqui voltado ao elogio à insubmissão, já que seu personagem atravessa o filme em eterno conflito com o seu superior no escalão militar, o Sargento Hulka. Há novamente um genial pseudo-discurso motivacional de Murray, semelhante ao de “Meatballs”, dessa vez dirigido a seus colegas de pelotão. Destaca-se ainda a bela sequência de graduação do pelotão, que acorda atrasado para a cerimônia e improvisa uma marcha ao som de um blues cantado por Murray.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Azar de um Valente (When Willie Comes Marching Home, John Ford, Estados Unidos, 1950)

Ford volta à 2ª Guerra, para fazer um filme engraçadíssimo, e ao mesmo tempo bem triste, sobre um cara que vira herói municipal por ser o primeiro habitante de uma cidadezinha a se alistar. Ford está aqui no seu ambiente preferido, pois o filme trata da mesquinhez da população da cidade, que logo começa a se irritar com seu novo herói, uma vez que Willie volta cedo demais para casa, por ficar encarregado de treinar soldados em um campo em sua própria cidade, na qual permanece por 3 anos, sem conseguir ir para a batalha. Willie passa então a ser hostilizado pela população local, que o trata como um covarde. Até sua namorada e seus pais entram na onda. Ford retoma o tema do herói incompreendido, não reconhecido, vs. a sociedade hipócrita e mexeriqueira, constante em sua obra. Este é o primeiro trabalho do diretor com o engraçado Dan Dailey, com quem trabalharia novamente em “What Price Glory” (1952) e “The Wings of Eagles” (1957).

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Loucos de Dar Nó (Stir Crazy, Sidney Poitier, Estados Unidos, 1980)

Este filme retoma a parceria entre Richard Pryor e Gene Wilder que havia funcionado tão bem no belo “Silver Streak” (Arthur Hiller, 1976) e que rolaria mais duas vezes: em “See No Evil, Hear No Evil” (também de Arthur Hiller, 1989) e “Another You” (Maurice Phillips, 1991). Novamente a parceria funciona muito bem nos melhores momentos do filme, aparentemente baseados na improvisação cômica da dupla. Há momento memoráveis, como a sequência em que os dois chegam à prisão e, a caminho da cela, Pryor começa a andar com um gingado bizarro, segundo ele para dar uma de mau e ser respeitado pelos outros prisioneiros. Wilder começa então a imitá-lo, ainda mais desengonçado. A segunda metade do filme, porém, perde muito da graça da primeira metade, por insistir em um enredo meio sem sentido, que envolve os personagens em um campeonato de rodeio entre presídios. A partir do momento em que o rodeio aparece na trama, o filme parece mais preocupado em dar continuidade à história, tocando-a em uma espécie de piloto automático, sem dar muito espaço à rica interação cômica exibida por Wilder e Pryor até então.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Céu Mandou Alguém (3 Godfathers, John Ford, Estados Unidos, 1948)

Este filme retoma alguns dos principais motivos do anterior e também belíssimo “3 Bad Men” (1926). Novamente a figura do típico herói fordiano é dividido aqui em três “bandidos bons”, que se sacrificam para cumprir seu dever (neste caso, o de cumprir a promessa feita à mãe de um recém-nascido, no momento de sua morte, de cuidar de seu bebê). Também como em “3 Bad Men”, a criança é batizada com o nome composto dos três. O filme faz referências explícitas à história dos Três Reis Magos e deixa transparecer uma forte religiosidade decorrente da formação católica de Ford. O tom geral é bem mais otimista que nas demais obras do cineasta no período, mas a melancolia está presente como sempre, uma vez que não há muita esperança para os três bandidos, apenas para o bebê. O filme é dedicado a Harry Carey, morto no ano anterior, em uma bela homenagem (“À memória de Harry Carey, Astro Brilhante do velho céu do oeste”) e marca a estreia de seu filho, Harry Carey Jr, em filmes de Ford, com quem trabalharia em 9 outros.