quinta-feira, 14 de outubro de 2010

No Tempo das Diligências (Stagecoach, John Ford, Estados Unidos, 1939)


Ford costuma ser muito criticado por seus detratores por ser supostamente direitista, reacionário, racista, um pouco por conta das próprias posições políticas ambíguas que tomava, um pouco pela persona autoritária que gostava de assumir, mas em grande parte pela percepção equivocada daqueles que assistem mal a seus filmes. Neste filme, é claríssimo o espírito libertário do autor, que simpatiza com os personagens párias, com os deserdados da sociedade: a prostituta, o bandido, o médico alcoólatra, em contraposição ao banqueiro, às senhoras respeitáveis e fuxiqueiras da “Liga da Lei e da Ordem”. Como já havia feito anteriormente nos filmes protagonizados por Will Rogers (“Doctor Bull”, “Judge Priest” e “Steamboat Round the Bend”), Ford contrapõe seus heróis à sociedade hipócrita e reacionária. A felicidade possível pertence àqueles que conseguem escapar da civilização sufocante (na fala de Doc Boone, quando o xerife deixa Ringo Kid escapar da prisão e fugir com Dallas para o seu rancho no fim do filme, “eles estão salvos das bênçãos da civilização”). Novamente Ford exercita seu talento cômico baseado em esquetes com diversos personagens, como aqueles belamente interpretados por Andy Devine, Thomas Mitchell e Donald Meek (este último já havia feito uma breve mas engraçadíssima participação em “The Whole Town’s Talking” como o cara que delata o personagem de Edward G. Robinson para a polícia e aparece em diversos momentos perguntando onde pode pegar sua recompensa). A entrada quase mítica em cena de John Wayne, em seu primeiro papel de destaque em Ford, é apontada por muitos como uma visão profética daquele que viria a ser a grande estrela dos faroestes (a câmera avança em zoom, enquanto Wayne, com um rifle, detém a diligência).

Nenhum comentário:

Postar um comentário