quinta-feira, 3 de março de 2011

A Paixão de uma Vida (The Long Gray Line, John Ford, Estados Unidos, 1955)

Mais uma declaração de amor de Ford ao exército. Tyrone Power faz o papel de Martin Maher, um militar confrontado com uma aposentadoria compulsória depois de passar 50 anos na academia militar de West Point, lugar que dá sentido à sua vida. O que é curioso é que o personagem parece ter no início bastante dificuldade de se adaptar à rigidez da disciplina militar, por ser um tanto insubordinado. Ironicamente, Maher decide se alistar quando, depois de quebrar vários pratos em seu serviço de garçom na academia e ficar devendo bem mais que o seu salário, descobre que os militares não podem ser multados por quebrarem pratos. Em relação conflituosa com a vida militar, Maher resolve, por diversas vezes, ao longo desses 50 anos de academia, abandonar a carreira, mas sempre acaba mudando de ideia por diversas razões, até que, por fim, se afeiçoa àquela vida, da qual não faria mais sentido abdicar. A tônica do filme, como em vários do diretor, é essa dicotomia entre disciplina, ordem, de um lado, e liberdade, autonomia, de outro. Seu sentimento dúbio em relação ao exército está presente tanto nos momentos engraçadíssimos em que Ford tira um sarro da rigidez militar, quanto no olhar deslumbrado para os desfiles e na forte amizade entre os soldados que vivem na academia. Maureen O’Hara faz o papel da esposa irlandesa durona e sentimental, lembrando a Mary Kate de “The Quiet Man” (1952). O filme conta ainda com a sempre bem-vinda presença de grandes atores-fetiche de Ford: Ward Bond, Donald Crisp, Harry Carey Jr., Patrick Wayne, Jack Pennick.

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