quinta-feira, 7 de abril de 2011

Rastros de Ódio (The Searchers, John Ford, Estados Unidos, 1956)

Esperei ansioso pela experiência quase sagrada de assistir a este filme em película, na mostra do Ford que aconteceu ano passado no CCBB. A revisão da obra, ainda mais numa sala de cinema, em película, como as grandes obras devem ser vistas, tornou-a ainda mais sensacional. John Wayne encarna aqui, pela enésima vez na obra de Ford, o típico herói condenado à solidão, que entra em cena para cumprir o seu dever (nesse caso, o de resgatar a sobrinha raptada por índios Comanches) e ir embora sozinho no fim. O humor de Ford está afinadíssimo aqui, principalmente nas figuras hilárias interpretadas por Ken Curtis (sua briga com o personagem de Jeffrey Hunter, antes do casamento com Vera Miles, é memorável) e Hank Worden (que passa o filme inteiro em busca de sua cadeira de balanço em frente à lareira, em diálogo com outra constante na obra de Ford: a busca do homem pela paz de espírito). A propósito, a linda música-tema do filme fala justamente dessa eterna busca: “A man will search his heart and soul / Go searchin' way out there / His peace of mind he knows he'll find / But where, O Lord, Lord where? / Ride away, ride away”. A famosa sequência final é arrebatadora e ilustra belissimamente o caráter e o destino do personagem. Wayne carrega a sobrinha nos braços até a casa dos Jorgensen, ao som da música-tema, enquanto Hank Worden balança em sua cadeira no alpendre. Depois que todo mundo entra em casa, Wayne parte sozinho, e a porta se fecha para a sua solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário